terça-feira, 23 de agosto de 2011

Links para os textos trabalhados em aula


  1. Só de Sacangem (texto de Elisa Lucinda e tirinha "Calvin e Haroldo")
  2. O Anel de Giges - Platão
  3. A Virtude é um Hábito - Aristóteles
Abaixo, algumas versões do texto recitado. Muito lindo! No CEJLL, dizem que a enunciação mais bonita deste texto foi durante o "Escola no Palco". Pena que não pude ir :(






A Elisa Lucinda é atriz e poetisa. Eu assisti ao seu monólogo "Parem de falar mal da rotina", já visto por mais de 1 milhão de pessoas. É difícil achar uma peça que tenha sido apreciada por tantas pessoas e, ainda assim, mantenha a qualidade dramatúrgica deste espetáculo. Além de divertidíssima, daquelas de morrer de rir mesmo, a peça também conta com momentos poéticos e reflexivos, nos quais a personagem cita e recita poetas como Fernando Pessoa e Mário Quintana. Muito bom!

Um abraço a todos,
Carlos


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Café Leite Lopes



Galera, o próximo Café Leite Lopes será na quinta-feira da próxima semana, dia 25/08, a partir das 15h. Os encontros estão cada vez mais interessantes! Vale lembrar, a participação no Café não está sujeita a nenhum tipo de avaliação dos professores, não vale nota, não é obrigatória. Vamos valorizar esse momento de reflexão aberta!

Até lá!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Schopenhauer e a educação ou como não agir em uma aula de filosofia, embora não haja regras para como agir

Eis uma foto do Schopenhauer. Dizem que ele parece com o Wolverine.


"Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possui-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes".

É assim que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer começa sua série de aforismos sob o título de Sobre a Erudição e os Eruditos, publicada, aqui no Brasil, junto a outras séries de aforismos, no livro A arte de escrever. (Na realidade, todos estes aforismos fazem parte de uma única obra, Parerga e Paralipomena, de 1850). Neste e em outros textos, Schopenhauer critica a cultura da erudição presente não apenas na Alemanha, mas em toda a sociedade burguesa européia da época. Em poucas palavras, esta cultura se baseia na valorização do acúmulo de determinadas informações como bem fundamental para a formação humana. Podemos chamar a formação do erudito de "super conteudista"? Sim, podemos, se compreendermos que uma formação voltada para a ampliação de conteúdos envolve, talvez mais do que hoje, a ampliação, também, das competências e habilidades do indivíduo.

Tentemos compreender esta lógica: se o acúmulo de informações é o bem fundamental, então torna-se necessário capacitar o indivíduo para acumular diversas informações. A formação de um erudito envolvia, então, o aprendizado de muitas línguas. Um erudito alemão seria capaz de ler e falar, além do grego e do latim, mais duas ou três línguas europeias. Se tomarmos os casos excepcionais, encontraremos indivíduos como o erudito e também filósofo Friedrich Schelling, que, com dezessete aninhos, já dominava mais de uma dezena de línguas. Além das línguas, que o permitiriam ler e interpretar textos de diversos registros e de diversas épocas, o erudito também precisaria lidar com tantos outros conteúdos avançados, que iam das mais recentes pesquisas da Matemática à Astronomia, dos mais recentes estudos de História Natural aos da Mineralogia, até questões de Teologia e História. Tudo isso envolvia, sim, o desenvolvimento de uma série de competências e habilidades.

Ora, que mal Schopenhauer vê nisso? Schopenhauer não vê um mal nisso, mas vê vários males que estão envolvidos nisso.



Primeiramente, o problema da formação do erudito não se encontra nos seus conteúdos, mas no fato de que ela é voltada para os conteúdos. Schopenhauer afirma que "em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade têm em mira apenas a informação, não a instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma [...]". Poderíamos concluir, então, que o problema do erudito é que, embora ele saiba muito e profundamente sobre diversos assuntos, ele não sabe exatamente para quê. Para acumular muitas informações, ele desenvolve uma série de competências e habilidades. Contudo, em posse de informações, competências e habilidades, não sabe bem o que fazer com elas. Será?

O segundo mal apontado por Schopenhauer é quase uma resposta ao primeiro. É o próprio filósofo que acusa toda esse cultura da erudição de ser uma espécie de autorreprodução infrutífera de um jogo de interesses, pelo qual seus participantes se enriqueceriam material e espiritualmente. Assim, parece que Schopenhauer visa nos auxiliar a examinar com um pouco mais de atenção as verdadeiras motivações dos participantes deste jogo, não tanto com o objetivo de difamar estes participantes, mas de criticar, efetivamente, o jogo, a validade de seus códigos e regras. Por que um erudito cita trechos da Ilíada em grego? Uma primeira resposta seria "porque sua formação é voltada para a ampliação da informação". A segunda resposta, porém, seria "porque isso aumenta seus ares de importante", ou seja, "porque isso aumenta seu crédito dentro de uma cultura de erudição".  Schopenhauer promove, assim, uma crítica da cultura, baseando-se, sem muito revelar, em alguma noção de como essa cultura deveria ser. (Trata-se, portanto, de uma noção prescritiva - olha a Ética aí).

Como o erudito não sabe para que acumula tantos conhecimentos - com exceção de um correspondente acúmulo de honras e algum dinheiro -, Schopenhauer conclui que esta cultura da erudição, embora estimule a busca de informações, é contrária à busca da instrução e da verdade - e é por isso que, lá no primeiro parágrafo, ele diz que "as aparências enganam". Basta pensarmos um pouco: se a educação é voltada para o acúmulo de conteúdos e se é este acúmulo que é honrado pela cultura em que ela se insere, então a utilidade supra-individual e a verdade do conhecimento são relegados para segundo plano. Isso não significa que os conhecimentos do erudito são falsos, mas que sua verdade ou falsidade não é tão importante quanto a boa impressão que causarão.


Ora, mas que problema Schopenhauer vê nisso tudo? Responder corretamente a esta pergunta envolveria um aprofundamento em sua filosofia, em especial na sua grande obra, O Mundo como Vontade e Representação. Podemos, por ora, dizer apenas o seguinte: Schopenhauer identifica nesta cultura um afastamento da sabedoria. Essa ideia pode ser compreendida a partir da distinção kantiana entre conhecimento histórico e conhecimento racional (Kant foi uma das grandes influências de Schopenhauer). Para Kant, o sujeito pode adquirir conhecimentos historicamente, ou seja, através daquilo que lhe é transmitido através do tempo; ou racionalmente, através da consulta que este sujeito faz à sua própria razão. Há fatos que não podem ser apreendidos senão historicamente. Há outros, porém, que o são indevidamente, já que o sujeito bem poderia fazer uso de sua razão para concluir, por si mesmo, se são verdadeiros ou não. Assim como Schopenhauer, Kant salienta: podemos passar a vida inteira pensando algo verdadeiro, mas sem saber por que é verdadeiro. A sabedoria envolve a prática deste saber por que é verdadeiro e o que é verdade. Schopenhauer identifica naquela cultura exatamente o oposto: uma prática de aquisição histórica do conhecimento, isto é, livresca, dogmática, embora tenha os ares pomposos e sofisticados da intelectualidade.

Ah, professor, mas o que isso tem a ver comigo? 

Acredito que muito, mas, se eu respondesse, seria um pouco contraditório. Basta, por ora, o enunciado brilhante que Antônio Abujamra fez da maravilhosa Clarice Lispector. Numa cultura como a nossa, em que não saber é moralmente condenável, fica o recado:



Um abraço amigo,
Carlos

terça-feira, 31 de maio de 2011

Artigo interessante de Bioética - Vivisecção


http://conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/29/vivisseccao-mal-necessario-213824-1.asp

Posso mentir e dizer a verdade?


É comum associar sinceridade à verdade. E mentira à inverdade, ou seja, à falsidade. Se lançarmos um olhar filosófico sobre estas duas associações notaremos, porém, como nem a primeira, nem a segunda, são necessárias. A primeira não é necessária porque podemos mentir e dizer algo verdadeiro. A segunda, porque podemos dizer, com sinceridade, algo falso.

Vamos partir de uma frase: "João não gosta de Maria". Se João gosta de Maria, ela é considerada verdadeira. Se João não gosta de Maria, falsa. Contudo, antes de dizermos que a frase é falsa ou verdadeira, devemos compreender a frase. Logo, dizemos que a frase é verdadeira quando 1) compreendemos a frase, ou seja, entendemos o seu sentido e 2) verificamos que a frase enunciada corresponde ou não aos fatos.

Os filósofos se perguntaram e se perguntam o que é uma frase (no vocabulário técnico, uma "proposição"), o que significa "compreender", o que é o sentido de uma frase, o que significa "corresponder aos fatos". Os filósofos pesquisam, inclusive, o que são fatos.

Para os nossos interesses, basta entendermos que uma frase, para ser considerada verdadeira ou falsa, precisa ser compreendida e validada. E que quando dizemos que é verdade que João não gosta de Maria, estamos afirmando, com outras palavras, que a frase "João não gosta de Maria" é verdadeira. É importante observar este ponto: fatos não são verdadeiros ou falsos, já que, aparentemente, empregamos os fatos para saber se uma frase, que descreve um fato, é verdadeira ou falsa.

Em geral, quando uma pessoa é sincera, ela quer dizer a verdade. O problema é que, muitas vezes, embora queiramos dizer a verdade, incorremos no erro e dizemos uma falsidade. Imagine que João e Maria são namorados, se amam e assumiram um compromisso de monogamia. Imagine, também, que João tem um irmão gêmeo, Paulo. Pedro, que não sabe que João tem um irmão gêmeo, vê Paulo beijando na boca de outra menina. Pedro chega a um amigo e diz "João não gosta de Maria". Com efeito, ele chegou a esta conclusão e foi sincero ao comunicá-la, mas não disse uma frase verdadeira. Foi sincero e não disse a verdade. Disse, sim, aquilo que, para ele, parecia ser verdade.




A situação contrária também é possível: podemos mentir e dizer a verdade. Imagine que Pedro já sabe da existência do irmão gêmeo de João, mas, com más intenções, pretende prejudicar João, difamando-o ao afirmar a todos que "João não gosta de Maria". E imagine que João realmente não gosta de Maria. Pronto: Pedro mentiu e disse a verdade.

Em suma, todos nós podemos:
  1. Querer dizer algo que pensamos ser verdadeiro e dizer a verdade (sinceridade + verdade);
  2. Querer dizer algo que pensamos ser verdadeiro e dizer uma falsidade (sinceridade + falsidade);
  3. Querer dizer algo que pensamos ser falso e dizer uma falsidade (mentira + falsidade);
  4. Querer dizer algo que pensamos ser falso e dizer a verdade (mentira + verdade).
A sinceridade é, assim, uma associação que nós fazemos entre nós mesmos (nosso querer dizer) e aquilo que nós dizemos. Quando somos sinceros, temos a intenção de que nosso interlocutor reconheça que queremos dizer aquilo que dizemos. Quando mentimos, também temos a intenção de que ele reconheça que queremos dizer aquilo que dizemos, muito embora pensemos (e não necessariamente saibamos) que o oposto é verdade.


Mas professor, eu estou surtando! Pra que todo esse discurso?
  1. Para não chamarmos de mentirosa uma pessoa que apenas disse algo falso. E para não confundirmos falsidade do sujeito que enuncia uma frase com a falsidade da frase enunciada. Quando chamamos uma pessoa de "falsa", referimo-nos a uma discrepância entre o que a pessoa diz e o que ela quer dizer. Uma pessoa falsa não é necessariamente uma pessoa que diz frases falsas, mas que mente, mesmo se, quando mente, diz a verdade.
  2. Para as turmas de 3a. Série, para aplicarmos nas atividades de nossas próximas aulas. Já pensaram como a comunicação social é comparável com a comunicação interpessoal? Quando um jornal, por exemplo, afirma ter um "compromisso com a verdade", chama para si a responsabilidade de uma pessoa que 1) quer dizer a verdade e 2) diz a verdade. A credibilidade de um meio de comunicação se baseia nesta relação que ele estabelece com seu público, tal qual a credibilidade de uma pessoa junto àqueles que com ela convivem. Para alcançar esse objetivo, é preciso que as pessoas que estão por trás do jornal assumam uma postura, uma conduta; é preciso que elas abracem valores. A Ética começa a entrar no terreno da comunicação social quanto mais compreendemos que a comunicação sempre é produzida, mediada, recebida, interpretada por sujeitos
Por enquanto é isso, pessoal.

Um abraço,
Carlos

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Descritivo ou prescritivo?


Olá, pessoal!

Nas turmas da 3ª Série, discutimos, nesta última semana, as especificidades de uma discussão ética. Houve, em algumas turmas, certa confusão com relação aos exercícios que propus para reconhecermos a dimensão ética. Vamos trabalhar mais sobre isso nas próximas aulas, mas gostaria de publicar aqui um trechinho do livro Iniciação à Filosofia, da professora Marilena Chauí:

"[...] senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para os membros de uma cultura os valores positivos e nagativos que devem respeitar e desejar ou detestar e desprezar".

A autora complementa, perguntando-nos: "Qual a origem da diferença entre juízos de fato e de valor? A diferença entre a natureza e a cultura. A primeira é constituída por estruturas e processos necessários, que existem em si e por si mesmos, independendetemente de nós: a chuva, por exemplo, é um fenômeno meteorológico cujas causas e cujos efeitos não dependem de nós e que apenas podemos contatar e explicar". Lembram-se do nosso exemplo da aula, "Amanhã vai chover"?

Ela prossegue: "por sua vez, a cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e as suas relações com a natureza, acrescentando-lhes sentidos novos, alterando-a por meio do trabalho e da técnica, dando-lhe significados simbólicos e valores". É o caso, mencionado em uma das aulas, das vacas que, na Índia, são consideradas animais sagrados e não devem ser comidas. Lembram-se dos debates de Bioética? Quando nos perguntamos se devemos ou não comer animais, não nos referimos ao modo como os animais agem, mas ao modo como nós agimos.


Vale acrescentar duas observações ao trecho da professora Chauí:
  1. Nem toda questão que se refira ao modo como nós agimos é ética. Um cientista que pesquisa as reações fisiológicas do corpo humano durante uma corrida pode fazer essa pesquisa baseado em princípios éticos (como, por exemplo, o princípio que defende a ciência como algo benéfico para a sociedade). Contudo, sua perspectiva sobre a ação humana de correr e sobre as reações do corpo é objetivante, ignorando os aspectos culturais da ação e concentrando-se nos naturais.
  2. Há algumas questões que, à primeira vista, parecem não pertencer à dimensão ética. Se as investigamos a fundo, porém, descobrimos seu aspecto ético. Por exemplo: há pessoas que praticam esportes para ficarem fortes. Ficar forte não parece ser uma questão ética. Contudo, por que tais pessoas julgam que devem ficar fortes? Por que agem assim e não de forma oposta? Por trás de sua ação, aparentemente sem maiores pretensões, há um todo de princípios normativos: "devo ir à academia hoje" se baseia em "devo ficar forte"; "devo ficar forte" pode se basear em "devo ficar atraente"; "devo ficar atraente", em "devo realizar meus desejos"; e assim por diante. A discussão ética gira em torno da validade dos princípios fundamentais destas ações e das possíveis contradições que surgem entre um princípio e outro. Por exemplo, a ideia de que "devo realizar meus desejos", à base de querer ficar atraente, pode, em outros contextos, entrar em conflito com a ideia de que "não devo tratar o próximo como um meio, mas como fim".
 Bom, é isso. Para quem quiser dar uma olhada nos slides das duas últimas aulas, eles se encontram aqui.

Um abraço a todos,
Carlos

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quem pode pode?

Olá, pessoal!

A passos lentos, mas seguros, mantemos o blog vivo.

Dando continuidade ao tema da Filosofia Política do primeiro bimestre, vamos investigar, nas turmas de 2a. Série, as formas de governo. A palavra "governar" remonta ao grego kybernai, verbo que significava conduzir, dirigir, guiar.

Se traçarmos uma analogia, podemos pensar que, assim como há diversas formas de conduzir um barco, há diversas formas de conduzir o poder; se há diversos contextos de nos quais os barcos são dirigidos (no rio ou no mar; em um passeio ou em uma corrida; de dia ou de noite), também há diversos contextos nos quais o poder é dirigido; se há bons e maus condutores, licenciados ou não para guiar um barco, hábeis ou inábeis para reconhecer contextos, também há bons e maus dirigentes do poder, sejam eles príncipes ou populações inteiras.



Neste bimestre, vamos procurar compreender de que maneiras o poder pode ser organizado, distribuído e administrado; de que maneiras se originam e se transformam tais  formas de governo; e de que maneiras ocorrem as disputas pelo leme do barco, ou seja, as disputas pelo poder.

Mais do que chegar a alguma conclusão definitiva sobre a questão (já que a provisórias chegamos diariamente), vamos tentar relacionar nosso cotidiano com estes modos de governo, assim como a validade de nossos atos de obediência e desobediência diante deles. Como nos permitimos a indignação com a corrupção se, como ressalta Caetano Veloso, "enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos"? O inconformismo de braços cruzados ou, ainda, o inconformismo corrupto, não seriam, na verdade, formas sofisticadas de conformismo? Não seriam formas de se manter na menoridade por falta de coragem descrita por Kant e que estudamos no primeiro bimestre?


  Até a próxima aula!