sexta-feira, 20 de maio de 2011

Descritivo ou prescritivo?


Olá, pessoal!

Nas turmas da 3ª Série, discutimos, nesta última semana, as especificidades de uma discussão ética. Houve, em algumas turmas, certa confusão com relação aos exercícios que propus para reconhecermos a dimensão ética. Vamos trabalhar mais sobre isso nas próximas aulas, mas gostaria de publicar aqui um trechinho do livro Iniciação à Filosofia, da professora Marilena Chauí:

"[...] senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para os membros de uma cultura os valores positivos e nagativos que devem respeitar e desejar ou detestar e desprezar".

A autora complementa, perguntando-nos: "Qual a origem da diferença entre juízos de fato e de valor? A diferença entre a natureza e a cultura. A primeira é constituída por estruturas e processos necessários, que existem em si e por si mesmos, independendetemente de nós: a chuva, por exemplo, é um fenômeno meteorológico cujas causas e cujos efeitos não dependem de nós e que apenas podemos contatar e explicar". Lembram-se do nosso exemplo da aula, "Amanhã vai chover"?

Ela prossegue: "por sua vez, a cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e as suas relações com a natureza, acrescentando-lhes sentidos novos, alterando-a por meio do trabalho e da técnica, dando-lhe significados simbólicos e valores". É o caso, mencionado em uma das aulas, das vacas que, na Índia, são consideradas animais sagrados e não devem ser comidas. Lembram-se dos debates de Bioética? Quando nos perguntamos se devemos ou não comer animais, não nos referimos ao modo como os animais agem, mas ao modo como nós agimos.


Vale acrescentar duas observações ao trecho da professora Chauí:
  1. Nem toda questão que se refira ao modo como nós agimos é ética. Um cientista que pesquisa as reações fisiológicas do corpo humano durante uma corrida pode fazer essa pesquisa baseado em princípios éticos (como, por exemplo, o princípio que defende a ciência como algo benéfico para a sociedade). Contudo, sua perspectiva sobre a ação humana de correr e sobre as reações do corpo é objetivante, ignorando os aspectos culturais da ação e concentrando-se nos naturais.
  2. Há algumas questões que, à primeira vista, parecem não pertencer à dimensão ética. Se as investigamos a fundo, porém, descobrimos seu aspecto ético. Por exemplo: há pessoas que praticam esportes para ficarem fortes. Ficar forte não parece ser uma questão ética. Contudo, por que tais pessoas julgam que devem ficar fortes? Por que agem assim e não de forma oposta? Por trás de sua ação, aparentemente sem maiores pretensões, há um todo de princípios normativos: "devo ir à academia hoje" se baseia em "devo ficar forte"; "devo ficar forte" pode se basear em "devo ficar atraente"; "devo ficar atraente", em "devo realizar meus desejos"; e assim por diante. A discussão ética gira em torno da validade dos princípios fundamentais destas ações e das possíveis contradições que surgem entre um princípio e outro. Por exemplo, a ideia de que "devo realizar meus desejos", à base de querer ficar atraente, pode, em outros contextos, entrar em conflito com a ideia de que "não devo tratar o próximo como um meio, mas como fim".
 Bom, é isso. Para quem quiser dar uma olhada nos slides das duas últimas aulas, eles se encontram aqui.

Um abraço a todos,
Carlos

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